segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dez minutos no metro...

Não andava de metro há muito tempo. Antes, que era rotina, ia desatenta e aborrecida, senão adormecida – desta vez não.
Entraram os dois, meio na conversa, meio envergonhados. Colegas do ensino básico que agora, grandinhos, já na secundária, se reencontraram por aí. Ela gira, gira, gira, a simpatia de quem sabe que é mesmo gira e que não há quem não veja isso. Ele um garanhão daqueles que conhecemos todas na secundária, cabelo todo em pé, a maniazinha inocente à flor da pele.
“Estás uma mulher, tu! Cresceste!”, e brilhavam-lhe os olhos.
“Tu também! Quantos anos tens agora?”
“Já tenho 18! Já tenho carro! Gostei mesmo de te encontrar...”, e chegava-se a ela como quem lhe vai tocar, mas não toca.
“A sério? Que bom! Também gostei de te ver!”, envergonhada, pois, e com um anel no anelar direito, daqueles grossos, prateados, que gritam “sim, sim, sou uma adolescente apaixonada e comprometida”.
Toca o telefone, o dele.
“Oh, deve ser a inglesa...”
“Então?”
“Conheci uma inglesa, ali no Martim Moniz”
“E “comestesa”?
“Ah, ah, ah, pois…!”
“A sério?!”
“São fáceis! É tão fácil que… fácil, fácil, fácil. Assim!” e estala os dedos. Ela ri-se e ruboriza. Ele fica tão orgulhoso e seguro de si que desta vez consegue mesmo dar-lhe uma palmadinha na perna. E ela ri-se e ruboriza. E cobre a cara com a mão do anelar com o anel.
“Tenho que sair aqui”, diz ela
“Gostei mesmo de te ver!”
“E eu a ti…”
“Liga-me! Vamos beber um café! Tens o meu número, não tens?”, os olhos a brilhar de novo.
“Tenho… Eu ligo! Adeus!”
“Adeus.”
E ficámos ali os dois, eu e o garanhão de 18 anos, com mais borbulhas que barba e aquela confiança que enjoa, de tão teen, de tão inocente, de tão boa.
 
Não sei se foi mais a nostalgia, a vergonha alheia, o eu-já-passei-por-isto ou a compaixão ou sei lá o que mais, mas de alguma maneira este casalinho levou-me a atenção durante um bom bocado. Sem conclusões, desta vez, que a parte gira é o que nos ocorre, a cada um individualmente, quando ouvimos estas histórias. É só uma história. Desta vez. E se calhar estou mesmo a ficar velha.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Obrigada pela tarde, Madrid.

O sol envergonhado, que mal apareceu, não impediu a gente de encher a cidade. Músicos de rua com guitarras e trompetes e microfones. Engravatados de bibicleta e muita gargalhada. E muitos copos. Sorrisos oferecidos na rua, que deve ser coisa que só turista (ou alentejano, no Alentejo) vê - vi-os hoje, várias vezes, e bem que me souberam! O jantar, esse, pronto: para comer e beber, não há como Portugal. Tenho dito. O churros com chocolate fazem parte doutra história. De resto: parques, museus, palácios, sim, mas o que me fica é a música, a alegria, a energia mais latina, mais explosiva, mais aberta, as vozes, as gargalhadas mais altas. Obrigada pela tarde, Madrid.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

nem mais nem menos.

Há momentos, recordações, ideias, planos, histórias e pessoas - principalmente, especialmente, sempre as pessoas - que fazem isto tudo valer a pena. Mais, bem mais que isso: tornam isto tudo bom com'ó caraças. Assim mesmo.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Ai, Lisboa

Tenho uma confissão, Lisboa: quase te deixei. Quase, quase. E hoje, quando acordei de novo em ti, com a tua luz, quando passei de novo pelo teu rio, quando vi de novo a tua gente, senti o teu cheiro, as tuas varandas, a tua calçada, o teu sotaque, o teu sabor... hoje, que já é tão óbvio e certo ficar, hoje parece-me ridícula a simples intenção de me ir. E hoje apreciei-te melhor, e hoje sorri-te mais, hoje valorizei-te ainda mais, porque quase, quase te perdi. 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Coisinhas pequeninas.

O Neil Pasricha passou por uma fase menos agradável na vida e, para se entreter, criou um blogue: 1000awesomethings.com. E depois lançou um livro com o conteúdo do blogue. E depois começou a dar palestras sobre felicidade.  Sim, o rapaz que começou o blogue, em primeira instância, por estar deprimido. Duas coisas a reter; um, fake it until you make it, que é também o meu cliché favorito, de momento, e tão verdadeiro como todos os outros clichés que conheço; dois, a importância das pequenas coisas: aquelas quase ridículas que às vezes nem notamos, ou notamos mas não valorizamos, ou valorizamos mas não lembramos. Uma lista de coisas boas é uma boa lista. E muitas vezes não é preciso mais que um pequeno sorriso para nos mudar o dia. 
Conheci esta história há uns dias, entre um conjunto de TEDs que tinha para ver, e guardei-a. Havia de chegar o dia em que me apeteceria falar dela e fazer a minha própria lista de (pequenas) coisas fantásticas. Tinha que ser um dia especialmente mau, por um motivo ou outro, porque entendo pelo histórico que é essa a primeira inspiração, se a necessidade provoca inspiração. Chegou o dia, e eis a minha lista, em primeira mão. Há-de ser espontânea porque não pensei nela antes, e é por isso que há-de ser verdadeira.

Ver o rio, todos os dias, a caminho do trabalho. O primeiro semáforo da ribeira das naus, um cigarro e a smooth fm alto e bom som. Quando está sol, sempre que está sol, tiro uma fotografia e termino os filtros no último semáforo do terreiro do paço.
Contar a toda a gente que fui ao ginásio antes do trabalho. Vale quase tanto como, de facto, conseguir ir ao ginásio antes do trabalho.
Abrir uma garrafa de vinho e passar a madrugada a ver séries no sofá.
Música: há músicas que me fazem sempre sorrir. My Way. Imagine. Tantas. Principalmente quando não as espero, fazem-me sempre sorrir.
Os abraços, qualquer abraço desejado.
Adormecer a ler.
Acordar de um sonho bom, voltar a adormecer, e continuar a sonhar: com o mesmo.
Comer uma tablete de chocolate, inteira, chocolate com amêndoas. Ou colheres de sopa de Nutella. Sem culpa.
Passar o Domingo de pijama.
Bebés. Pegar-lhes ao colo, fazê-los rir, adormecê-los. Todos os bebés.
Uma tarde de confidências com as amigas.
O último check, na última tarefa do dia.
Dançar uma noite inteira, tanto que doem os pés e mal consigo subir as escadas de casa.
Estacionar em frente a casa, durante a semana, quando chego do trabalho. (Só entende quem mora no centro de Lisboa, sem garagem.)
Ir ao cinema, com pipocas e snickers que duram a primeira parte inteira.
Encontrar dinheiro em bolsos de casacos guardados.
Quando percebem que emagreci.
Beijos nas bochechas.
Fazer planos. Ainda que impensáveis, irrealizáveis, fazer planos é a primeira das satisfações.
O reconhecimento no trabalho. A palmadinha nas costas.
Rir, rir sem motivo durante horas, rir por rir, por ver rir, por fazer rir.
Fazer pequenos almoços enormes e ficar a comer e a conversar até à hora de almoço.
Passear de mão dada.
Praia de inverno. Correr na areia, de botas, com sol e frio.
Uma tarde de cocktails numa esplanada.
Encontrar os ferrero rocher que escondo no Natal. E comer todos.
Conseguir arrumar a casa. E a roupa. Toda! E perceber que está tudo feito e que não poderia fazer mais nada e que portanto mereço descansar.
Quebrar paradigmas, a mim e aos outros.
Pintar as unhas à noite e acordar sem marcas dos lençóis.
Coincidências.
Filmes que fazem chorar, de tão bonitos. É quando começamos a sentir arranhar na garganta que sabemos que aquelas duas horas valeram a pena.
Comer castanhas na Baixa no primeiro dia de frio.
Clichés. Sim, clichés.
Conhecer pessoas. Não à primeira, mas conhecer mesmo. Quando chega aquele momento em que, de facto, se conhece alguém. 
Conduzir, por conduzir, sem destino. Parar quando me apetece parar e ir conduzindo, por aí.
A inspiração para escrever.
Acordar com o sol a brilhar lá fora.
Almoçar fora.
O dia em que recebo o ordenado e vejo o meu saldo corrente a quatro dígitos. Normalmente é só um dia. Mas vale a pena.
Ler o expresso sentada na Estrela, num banco de jardim, uma manhã inteira de Verão. 
Café com gelo e limão.
Andar à chuva, quando chove tanto que só se pode desistir de evitar apanhar uma molha... e a molha nos diverte.
Mimo. Muito mimo. Sentir-me pequenina, de tanto mimo.
Um sábado inteiro de compras. Quando chegam os saldos.
O Natal! O Ano Novo! O São Valentim! O meu aniversário!  O Dia da Mulher! Todas as datas que possam ser comemoradas.
Surpresas.
Um restaurante novo.
Sobremesas.
Dançar no carro ao som da Cidade no final do dia.
A areia no carro depois de um fim de semana  de praia.
O cheiro da roupa lavada.
Poesia, da boa. Pessoa. 
Recordar, acompanhada.
Sessões de fotografias, muitas fotografias, e chegar a casa e ver todas durante horas.
... ... ...

E sinto que podia continuar indefinidamente. Escrever um livro, até, talvez. E estas coisinhas pequenas, pequeninas, estes clichés, hábitos, satisfações, pequenas sortes... apenas saber que fazem parte de mim e da minha vida, apenas escrevê-las, tornou-me hoje, agora, bem mais feliz.