quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Zé



O que me assusta é o Zé, que ficou desempregado, deixou a mulher e os filhos para não ser um estorvo, dorme num armazém abandonado por aí e tudo o que pediu foram meias. Lavadas, das fofinhas.

Na verdade, assusta-me esse desespero - esse desespero a sério, que não tem a ver com aquilo que queremos e não podemos ter. Ainda. O que me assusta é o que não queremos. Quando não queremos. Quando já não queremos o que quer que seja porque já não nos desespera o querer,  o querer querer alguma coisa mais. O Zé não quer, e há muitos como ele. Isso assusta-me.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Relativizando.

16 anos. Lembro-me de ter a certeza - tão mais certeza que hoje! - que era super adulta, autónoma e que a minha personalidade estava formada. Lembro-me de chorar por amor (?!) e de desesperar com as burbulhas e com as gordurinhas. Não tenho saudades da adolescência.

Malala escreveu que via a Betty Feia e sonhava como seria viver uma vida em que a moda e as paixões e a forma do cabelo ao acordar são verdadeiras preocupações.

Não tenho qualquer ilusão quanto a ser de modo algum possível comparar as nossas adolescências com a vida dessa heroína que bem poderia ter ganho o Nobel da Paz e que dedica a sua vida - literalmente - à causa da educação das meninas. Nem tenho intenção de vulgarizar ou ridicularizar estas nossas vidas de chatices e cabeleireiros, salários e casamentos, paixões e viagens e revistas de moda - também é a minha vida e tenciono vivê-la e valorizá-la tanto quanto possa. Mas não há como não relativizar um pouco estas vidas quando alguém como Malala, essa menina de 16 anos, toma como uma hipótese de alegria tão distante e remota o sonho de viver esta realidade e estes problemas que vivemos.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Ninguém disse que era fácil


Vou generalizar.
(E talvez não faça muito sentido.)

Vivemos rodeados de preconceitos, de pessoas com ideais pré-concebidos que nos predefinem e moldam. Nós somos essas pessoas. Nascemos e aprendemos o que é certo e errado. Não devemos dizer asneiras nem mentir, não devemos desobedecer aos nossos pais, a vingança é feia e assume-se que o bom senso é geral e uniforme. Não devemos sair da mesa sem pedir licença, é feio espirrar alto em público, as mulheres devem ser bonitas e cuidadas. Respeitamos os mais velhos e o "tu" só aparece com autorização prévia. Por algum motivo chamamos "pessoas de bem" a quem tem mais dinheiro que a média e assumimos bem como "bem", literalmente, com toda essa conotação automática positiva que conhecemos, vá-se lá saber porquê. Sabemos que devemos casar, conservadoramente devemos casar com alguém do sexo oposto, devemos casar para a vida, ter filhos e educá-los tão bem ou melhor do que os nossos pais nos educaram a nós. Os mesmos valores e princípios. O que conta é a amizade e o respeito. Devemos poupar e fazer algo pela sociedade. São moralmente permitidas mais saídas da casca aos homens que às mulheres, em todas as áreas - é assim, toda a gente sabe que é assim. Devemos ser simpáticos, calmos, ter objectivos claros e ser consistentes ao longo da vida. Devemos gostar de ler bons livros e ver bons filmes, é bem visto que estejamos a par das notícias e que tenhamos viajado o suficiente para ter histórias para contar. Em suma, devemos ter uma vida estável - tão estável quanto possível - poucos esperam mais que isso de nós e para nós.

A verdade é que a maioria dos momentos mais felizes das nossas vidas, de todos nós, são oriundos ou causadores de uma regra quebrada, um paradigma alterado, um erro cometido. E a verdade é que são os objectivos impossiveis e os sonhos utópicos e as paixões arrebatadoras que nos fazem saltar (e não arrastarmo-nos) da cama todos os dias e ter vontade de viver - sim, esses que deixam a estabilidade para segundo plano, esses que nos fazem arriscar tudo e que têm uma probabilidade tão pequena de correr bem. A verdade é que a vida vale a pena pela busca desses objectivos, sonhos e paixões. A verdade é que precisamos de genuinidade, espontaneidade e muita coragem para conseguir ir atrás desses objectivos, sonhos e paixões. Sejam eles quais forem. E a verdade é que o Mundo (nós?) não nos facilita a vida.

Bem... na verdade, ninguém disse que era fácil.


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Cliché?

Queremos tudo. As piroseiras todas! Queremos rosas vermelhas, queremos que nos abram a porta do carro, queremos jantar à luz das velas e receber cartas de amor. Queremos andar de mão dada e queremos comemorar todas as datas possíveis. Queremos tudo. Desde quando o cliché é algo a evitar? Queremos tudo quanto é cliché.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um ano de suor

Passou um ano desde que crei este blog. Bom, talvez não um ano a sério, um ano lectivo. Criei este blog para falar sobre o meu mestrado, para partilhar o que ia aprendendo e conhecendo e fazendo. Não o fiz. Entretanto, aprendi muito. Aprendi de tudo: ética, estratégia, contabilidade, finanças, gestão de marcas. Foi um ano de suor, de noites mal dormidas, de muito esforço e de muito tempo livre deixado para depois. Devo muitas horas à minha almofada, é um facto. Devo muitos cafés aos meus amigos. Muitas visitas à minha família. Devo até muita dedicação ao meu trabalho. Seja como for, como em tudo na vida, o mais importante foram e são as pessoas. Mais que temas académicos, conheci amigos e, se cheguei ao final com alguma sanidade mental, foi graças a eles. Estudámos juntos, trabalhámos em grupo, fomos consultores, empreendedores, amigos. Saímos, jantámos, bebemos, zangámo-nos e fizémos as pazes, preocupámo-nos uns com os outros, fomos sinceros, conhecemo-nos a sério, durante meses, todas as sextas, todos os sábados, todos os dias. Hoje sinto saudades dos e-mails de bom dia do Jaime e das mensagens da Sónia quando me atrasava para as aulas. Dos ataques de riso a meio da aula. Do cigarrinho com a Luísa nos intervalos. Dos e-mails do professor Crespo. Do nosso presidente Amerali. E da Raquel e do Nuno, sempre prontos para mais uma noitada (não de estudo...). Das caras de sono do Nuno Mendes. Dos toalhetes Renova que usava na aula para me acordar a mim e a metade (mais!) da turma. E de tudo, e de todos. É um facto, já estávamos todos muito saturados do estudo e uns dos outros, quando acabámos... mas a verdade é que vou sentir muitas, muitas saudades. Saudades boas porque são boas as recordações que ficaram. Sei que muitas amizades vão ficar para sempre, e sei que se não fosse o suor, as noites mal dormidas, as discussões e o tempo livre que todos perdemos, estas amizades não existiriam. Portanto, e resumindo, foi um grande ano. E tudo valeu a pena. Um grande obrigada a todos! :)

domingo, 31 de março de 2013

Acredita.



Olhas para trás e percebes que o tempo passa. És adulta. Já não é tão fácil emagrecer, descobres o significado de “pneuzinho” e as rugas começam a aparecer à volta dos olhos. Consegues relativizar factos e sentimentos porque já viveste e sentiste e sofreste o suficiente para saberes fazê-lo. Não te apetece maquilhar-te tanto e os saltos altos ficam para os dias especiais porque, de facto, já és uma mulher e não há mais nada a provar a ninguém. Estás por tua conta. Tens contas para pagar e o saldo bancário tem que andar controlado. Deixou de haver adiantamentos de mesada. Moras sozinha.  Sabes que o casamento está mais perto a cada dia e os filhos também. E, embora não percebas como podes ter tempo para tudo, a verdade é que arranjas. Queres e vais arranjar. Os miúdos tratam-te por senhora e os funcionários públicos também. Podes usar baton vermelho ao jantar e dominas assuntos suficientes para manter uma conversa com a maioria das pessoas. A partir de agora, só cresces para os lados e é a altura certa para dizer “basta!” aos doces e aos cigarros. Tens que lutar pelo que queres porque ninguém dá nada a ninguém. Tens horários para cumprir, objectivos para realizar. És uma sortuda, trabalhas no que gostas e as oportunidades vão surgindo. Cativaste pessoas, ao longo da vida, e és responsável por um bocadinho de cada uma delas. Tens família, tens amigos – talvez até mais do que aqueles que imaginas. Tens a tua casa e as tuas coisas e és a única responsável por elas. És adulta, és uma mulher e – acredita! – há muito mais coisas boas nisso do que aquelas com que contas na maioria do tempo. És tu quem decide como aproveitá-las.

Vais errar muitas vezes. Vais ter dúvidas muitas vezes e vais querer desistir muitas mais vezes ainda. Vais ter vontade de fugir e recomeçar num Mundo novo. Vais chorar, vais magoar os outros e ser magoada por quem menos esperas muitas, muitas vezes e, acredita, nunca vais habituar-te a isto. Vais sentir-te sozinha e desejar que alguém tome decisões por ti, te aconselhe, decida e se responsabilize por ti. Vais aprender com aquilo que fazes, de bem e de mal.

Mas... sabes que mais? Vais aprender todos os dias. Vais conhecer pessoas maravilhosos. Viajar para lugares que nem imaginas que existem. Ser uma profissional de excepção, fazer aquilo que gostas todos os dias. Vais casar de Louboutin, ter uma festa na praia e 500 convidados que vão estar lá para te ver feliz. Vais construir a tua família, ter filhos. Um casal lindo, que te vai dar tantas alegrias como dores de cabeça e que vais amar de uma forma que hoje nem imaginas possível. Vais amar muito. Vais ser amada e haverá sempre, sempre alguém que seria capaz de dar a vida por ti. Vais sorrir muito. Perceber quem serão os teus amigos de sempre e para sempre e aproveitar a vida com eles. Vais descobrir quem és, mais um bocadinho todos os dias, e vais revelar-te a quem o merecer. Vais saber o que queres e o que te faz feliz. Vais viver. Ser a Mulher mais feliz do Mundo!

sábado, 30 de março de 2013

Um desafio novo.

Emprego novo. Surpresa, curiosidade, motivação. Colegas novos, clientes novos, um mercado novo, um local novo, uma função nova, uma rotina nova. Nada como a adrenalina de um novo desafio!