quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Não vos vou contar nada de novo, mas apetece-me desabafar

Sinto-me quase na obrigação de escrever qualquer coisa sobre a austeridade. A verdade é que não posso escrever muito, porque não sei muito. Melhor, poder posso, mas não quero. Tenho perdido a paciência para me manter informada porque as más notícias não me motivam. E acima de tudo porque, e envergonho-me por isto, até agora ainda não percebi que raio posso, ou podemos, fazer para melhorar as coisas. 
A verdade é que só pensei em formar uma visão económica das coisas quando entrei na Nova, e desde aí que me considero bastante liberal, embora muito comedida no que respeita às causas sociais, principalmente àquelas que me são mais especiais. É por isto que não tenho espírito político mas de eterna estudante. Enfim. Sempre que me lembro de ter entrado em discussões sobre economia e, mais recentemente, sobre a crise e sobre a austeridade, foi para defender as medidas de poupança, contenção e essencialmente um grande ajustamento estrutural de que o país precisa há décadas. Pelo bem comum, porque é o todo que interessa. A verdade é que isto não tem ajudado. Ou talvez ajudasse se fosse bem feito - como, não sei. E já não fico tão indiferente como ficava às manifestações ali ao fundo, na Assembleia. Já não me apetece ir para lá apenas fotografar os ânimos exaltados em que não me revejo (e que, na verdade, até invejo). Ultimamente, não tenho conseguido evitar a compaixão pelos casos individuais, pelas famílias, pelas crianças que parecem não ter futuro por cá. Tem-se tornado difícil conviver com as notícias do dia-a-dia. Há cada vez mais sem-abrigo nas ruas. As lojas fecham, os cafés fecham, as liquidações que anteriormente eram uma belíssima oportunidade para fazer compras, hoje tornaram-se o prato do dia e, sinceramente, entristecem-me. 
Sempre pensei que isto ia correr bem, que íamos sofrer um bocado e que para o ano as coisas começavam a entrar nos eixos. Ingenuidade? Confortava-me a fé profunda na honestidade do Passos Coelho, na genialidade do Vítor Gaspar, na humildade e no saber do Álvaro. O Álvaro que, ao que parece, está quase de volta ao Canadá. 
Tenho estado demasiado confortável para decidir agitar a cabeça e pensar no assunto. Porque custa! Custa formar uma opinião fundamentada, dá trabalho assumi-la e defendê-la e não tenho tido a mínima inspiração. Ou vontade, que a inspiração vem por consequência da vontade. Tenho estado demasiado sensível às pessoas, aos casos, às histórias para conseguir afastar-me e pensar solidamente no assunto. Não me tem apetecido, mas vai ter que acontecer. Não porque só por mim consiga acrescentar muito, mas porque é uma reflexão que me faz falta. E faz falta ao país a reflexão de todos. Faz-nos falta a nós! Porque o país somos nós e integrar-nos nesta história, no problema e na solução - em vez de deixarmos para os outros as culpas e os méritos (e o trabalho) - é o primeiro passo para um caminho mais certo e literalmente mais feliz.