segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Aprender a Girar

Há muito tempo que planeio começar um blogue. O dia de hoje foi a gotinha de água que me faltava.
Hoje foi dia de apresentação dos Mestrados Executivos do Iscte. Parece mentira, mas estou mesmo inscrita. Vou mesmo começar!

Enfim, vamos ao que interessa. A apresentação foi comum - discurso do presidente, testemunhos de antigos alunos, apresentação dos programas. No final, porém, tivemos uma surpresa: o Miguel Monteiro. Segundo o presidente, a história do Miguel representaria um símbolo daquilo em que a Escola acredita, daquilo a que quer ser associada - a motivação, a persistência, o sucesso. 

Pois bem, o Miguel Monteiro é um rapaz de 35 anos, paraplégico desde os 21. Sofreu um acidente que o deixou numa cadeira de rodas para sempre. "Como se não bastasse", como ele próprio diz, passado pouco tempo ficou cego. O Miguel está, contudo (felizmente e para alegria de todos os que têm a honra de poder ouvi-lo falar), no pleno das suas capacidades mentais e emocionais - acredito, até, que estas se tenham apurado de uma forma que seria impossível numa vida diferente.
Contou-nos que o seu maior sonho (realizado, à data) era concluir a Licenciatura no Iscte. E explicou-nos, ponto por ponto, como conseguiu estudar, memorizar, estar presente nas aulas, ser o aluno de 18 que foi. Contou-nos que o conhecimento o motiva acima de tudo o resto porque o torna mais interessado e interessante. Os amigos dizem que há poucos que consigam falar de forma tão informada e sobre assuntos de um leque tão abrangente como o faz o Miguel. Acredito piamente neles! 

Falou e emocionou-nos. Nunca fiz parte de uma salva de palmas tão forte! Quero acreditar que ele pode sentir o orgulho de todos os presentes, porque merece-o. Quanto a mim, chorei que nem uma desalmada porque me revoltam as injustiças mas, acima de tudo, porque nada me comove como a força. Mas o que o Miguel quer, e o que o Miguel merece, é que partilhemos do sorriso dele. Alegria pela mudança, pela adaptação, pela motivação, pelo conhecimento e pela vida.
Gosto de pensar que as pessoas são feitas das experiências que vão vivendo e da forma que as vivem. Das escolhas que fazem, porque há sempre escolha e, no final, são essas escolhas que contam e nos definem. 

O Miguel saturou-se de ouvir dizer que o Mundo dá muitas voltas. Se assim é, só temos que aprender a girar. Uma lição de vida. Obrigada, Miguel. Obrigada, Iscte.