segunda-feira, 16 de junho de 2014

Uma coisa estranhíssima.

Crescer é uma "coisa" estranhíssima. Olhando para trás, tenho tanta certeza que não me revejo (no sentido de não me reconhecer, hoje, como igual ao que fui) como sei que sou o resultado disso tudo que tenho sido, de há 24 anos para cá.
Tenho uma vantagem: sempre escrevi tudo e sobre tudo e de vez em quando dá-me para reler. Reler essa paixão toda, a ansiedade, os receios, os planos, as lágrimas, os sonhos e os olhares que significavam tanto, é hoje ler uma história bonita que não parece pertencer-me verdadeiramente a mim. As cartas de amor mais antigas já não me fazem chorar nem ruborizar - não me aceleram o coração, confortam-no com a lembrança desses amores que me parecem hoje leves e bonitos, ainda que não saiba dizer com clareza porque começaram ou terminaram. Os planos que tinha, a Carina que imaginava que chegaria a ser, os interesses que me consumiam, a forma como ocupava o meu tempo, aquilo e aqueles que me causavam saudade, tudo isso é hoje uma história - às vezes ridícula, às vezes linda, às vezes dramática. É a minha história e, ainda assim, ou por isso mesmo, apenas uma história.
Conforta-me saber que vivi com intensidade isso tudo que vivi. E conforta-me, ainda um pouco mais, este distanciamento que o tempo faz acontecer, mais que tudo porque é o distanciamento que acontecerá daqui a mais algum tempo em relação ao dia de hoje e de amanhã - o bom e o mau. 

Sempre gostei da palavra relativizar. Tem assumido significados ligeiramente distintos à medida que o tempo passa. Hoje, o que vejo é que tempo nos permite e ensina a relativizar e a maturidade chega exactamente com o tamanho do embrulho que conseguimos relativizar. Há-de ser por isso que os mais velhos são mais sábios. E arriscam menos. A intensidade daquilo que sentimos e o risco que nos dispomos a correr por aquilo que queremos diminui à medida que a serenidade aumenta. Não será uma coisa má. É crescer, apenas.
Na verdade, o essencial fica! E também isso é estranhíssimo. A maneira como vejo o que realmente importa, aquilo que valorizo, o primeiro impulso, tudo isso continua estranhamente semelhante. Não procuro as coisas nos mesmos sítios nem da mesma forma, mas no fundo as coisas que procuro não diferem tanto assim.

E... hoje, como ontem, continuo a gostar de escrever sobre o amor, sobre o tempo, sobre clichés e sobre as pessoas. Lamechices. Estranhíssimo!

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